Por Matheus Cunha
Iniciar o curso primário de voo no Segundo Esquadrão Aéreo da Academia da Força Aérea é estar diante de uma situação de elevado stress e pressão. Eram treze missões nas quais só poderia tomar nota baixa, que aqui chamamos de “deficiente”, em duas delas. Na terceira eu estaria fora do curso.
Durante as primeiras instruções já percebi que algo estava errado. A mente distraía e os pensamentos não se adequavam às situações adversas do voo. Houve até momentos de apagão, sabe aqueles momentos que olhamos para o nada... Distraídos? Escutava apenas as falas enérgicas dos instrutores – E aí? O que vai fazer agora? Está me escutando?
Um dia, então, meu instrutor de voo me disse – Por acaso você já ouviu falar de Mindfulness? Não fazia ideia do que se tratava. Então depois de mais ou menos uma hora de conversa fui para meu quarto e pesquisei o assunto. Sempre foi muito claro para mim que eu teria que fazer tudo que fosse possível para realizar meu sonho de voar. Então, mesmo com um pé atrás e depois de ignorar minha namorada quando ela me falou sobre meditação um ano antes, comecei a praticar.
Ainda hoje existe muito preconceito com relação a pratica meditativa, ainda que os praticantes no Brasil estejam aumentando. A primeira coisa que foi desconstruída com aquela conversa com meu instrutor é que para meditar não é preciso muito esforço e nem ficar naquela posição de lótus em um lugar específico. Podemos praticar em variadas posições e em diversos lugares.
Um livro que me ajudou muito a desconstruir barreiras sobre meditação foi o livro de Mark Willians e Danny Penman – Atenção Plena Mindfulness. Nele é descrito de maneira científica várias formas de encontrar um pouco de paz em meio ao caos. A primeira prática leva 1 minuto. E foi justamente isso que me ajudou em voo, precisava de um pouco de paz. Minha mente não parava, pensava no erro, no que iria acontecer no exercício que eu teria que fazer em voo e não tinha estudado muito, que eu não poderia errar. Dessa forma, não conseguia focar no que era essencial: o presente. O momento em que eu estava na aeronave e precisava pilotá-la.
É claro que durante esse processo tive ajuda de psicólogas que aceleraram a compreensão do que acontecia comigo em voo e que me mostraram vários caminhos que poderia seguir para superar aquelas falhas. A psicóloga Rosana Leite utilizando da técnica de EMDR me ajudou a identificar certos pensamentos de insegurança que eu tinha durante os voos. Durante as consultas percebi que práticas meditativas estavam presentes, elas apareciam de maneira escondidas, como exemplo, nas técnicas de respiração. A utilização do EMDR foi essencial também para o meu sucesso no curso, mas isso é uma conversa para outro momento.
O que mais aprendi nessa situação é que não podemos deixar que preconceitos nos impeçam de conhecer coisas novas. A meditação está presente em muitas vidas sem que seja percebida. Se tentar limpar seus pensamentos parando dois minutos no trabalho relaxando, você já está meditando. Um tipo de respiração para momentos de elevado stress é a meditação. Até mesmo aquela contagem de 0 a 10 em uma situação difícil já auxilia. Você está limpando a mente e deixando que apenas pensamentos positivos estejam presentes. O aprimoramento da meditação durante a nossa rotina traz resultados excelentes. Mark Willians mostra diversos exemplos disso em seu livro. Vale a pena conhecer um pouco mais.
Estou no 4o e último ano do curso e continuo aplicando as técnicas que aprendi, elas me auxiliam muito e com certeza levarei o mindfulness para a minha profissão.